O rio Araguaia constitui o centro desta exposição virtual. Ele nasce na serra do Caiapó, no município de Mineiros (GO), e percorre os Estados de Goiás, Tocantins, Pará e Mato Grosso. Nas suas margens, e em torno de toda a sua extensão, fixaram-se diferentes comunidades indígenas. Entre elas destaca-se o povo Karajá, que conta com grupos e famílias assentadas em praticamente todo o território delineado pelo seu percurso até à desembocadura, no Rio Javaés. Aí, na ilha do Bananal, a constituição do Parque Nacional do Araguaia e do Parque Indígena do Araguaia têm promovido a sua preservação, mas, apesar de tudo, suas águas têm vindo a diminuir e secar, fruto da ação humana, tal como sucede com o bioma do cerrado. Todos estes elementos conformam uma paisagem onde as culturas, memórias e identidades indígenas ainda resistem à ganância, à violência e ao preconceito de que permanentemente são alvo.
Uma das memórias associadas ao rio relaciona-se com a origem do povo Karajá, nascido no fundo do Araguaia para povoar a terra. Essa história traduz como, no pensamento Karajá, a sua vida se vinculou desde o início ao rio. O Araguaia, como espaço fluído, se constitui uma plataforma de encontros e desencontros entre diferentes grupos que, ao longo do tempo, se deslocaram através das suas águas, se apropriaram delas e as transformaram. Os vestígios dessas vivências passadas só parcialmente se preservam, submersos ou nas margens do seu leito, algum dia resgatados pela intervenção da Arqueologia.
Sob o olhar das pesquisadoras e pesquisadores indígenas se mostram as curvas do Araguaia que, em cada ponto, têm nomes distintos. Guiados por eles se descobrem os peixes e tartarugas com que partilham aquele território, as espécies botânicas que membros daquela comunidade identificaram desde tempos imemoráveis, ou os botos que nadam com as crianças. Tudo isso nos coloca ante lugares de memórias que atuam na construção de identidades do presente e, sobretudo, ante um espaço apropriado que evidencia um território indígena muito mais amplo que aquele que aparece demarcado e no qual o rio é o principal elemento de conexão.
